andré luis

Lígia
2 min readOct 27, 2021

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como um decreto que de antemão se sabe que não será cumprido, promovo apenas seu primeiro nome porque todo mundo que me ouviu falar de boys nos últimos 11 meses consegue remetê-lo a você (ainda que houvesse outros boys, ainda que houvesse outros andrés). e porque conseguimos ter diálogos inteiros, porque você é lindo de morrer, porque finalmente aconteceu, eu não consigo olhar para as púrpuras permeando minhas coxas e não pensar que eu queria mais de você demarcando cada território do meu corpo. se falamos e pensamos em prosa, não me vem na cabeça uma paixão pitoresca, das ideias e romances históricos, mas um refresco na frente de um mar que é limpo, leve e sossegado, embora nunca silencioso. um mar sóbrio, que não sabe dos porres ou das ressacas. que tem, talvez, baleias.

e qual é o segredo das baleias? você que faz muitas perguntas, você dorme no sol, você gosta do meu cabelo, você é uma abstração e eu permaneço nadando sempre em alto mar. você perto demais e contemplável em cima de mim é um paraíso oceânico, arrisco a hipóxia do subterrâneo porque é tão bom, fazendo tudo durar um pouco mais numa espécie de letargia aguda e sinestésica. não vou subir.

tento segurar a minha alegria, mas de repente minha pele está boa e eu volto a sorrir nas fotos e tudo tem um outro brilho, meu coração está radiante bate feliz acho que é amor kkkk, quero levar uma vida com menos, quero conhecer outras praias, quero fazer uma revolução. sei que vou cancelar os próximos dates pra pensar em você. no seu bigode. no seu cabelo que cheira a manteiga de karitê. no colar de turmalina que você nunca tira do pescoço. no seu departamento científico. na tese de burnout e neoliberalismo que você está lendo nas aulas especiais de sociologia, e que provavelmente vai emendar um mestrado. e que tem (ou deveria ter) tudo a ver com o que eu faço. você que me diz na maior paz: tudo é uma construção, linda. então eu me deito.

daí que tem um mamífero gigante que vive muito bem sozinho lá no fundo do seu mar, mas que decidiu tentar a sorte arriscando um suspiro ali na superfície. e foi tanta sorte não estar sozinha aqueles dias, andré. mais sorte ainda foi não querer estar sozinha enquanto eu tava com você. não me faltou o ar, não me atacou a fome, não me doeu a cabeça. não me faltou nada, esse céu de tatuagem, esse brilho na água, esse amor estacional. o gosto salgado de todas as vezes. o cansaço gostoso de praia que permanece uns 2, 3 dias depois de voltar pra casa. a pele que já não é a mesma que foi.

as baleias.

como será que elas aguentam nadar assim o ano inteiro?

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