Quero me jogar nesse azul

Lígia
3 min readDec 12, 2021

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Você vai saber o que não é ficção até nas coisas mais obsoletas e improváveis que eu inventar. Você vai saber que eu quero ficar mesmo quando eu, desnudada e sem contato visual nos seus braços, falar em me mudar pra Minas Gerais ou pro Espírito Santo.

Eu tenho prova amanhã, no boys allowed, alojamento de atleta em véspera da final, mas se a gente tivesse um título consagrado pelo uso popular (como o meu dra. que te faz revirar os olhos) poderíamos estar juntos agora tomando vinho e vendo séries pra tirar o peso desses ombrinhos tão novos e mortificados. Queria te perguntar se tem alguma chance disso, da gente, acontecer. Dois clichês de oclinhos e curiosidades distintas sobre o mundo ao redor, talvez os mesmos medos condensados do futuro, talvez (e aqui eu estou inteiramente no escuro) a mesma vontade de não estar tão sozinho ao completar 30 anos, sair dessa adolescência tardia branca e literária, furar as bolhas, você zuando meus discos que são todos do mesmo fabricante e eu julgando muito o tame impala brasileiro que tem uma música que chama polução noturna??, mas ouvindo a semana inteira “eu só te quero por cima”, que na verdade é “eu só te quero pra cima”, mas meu ato falho diz tudo que se passa nessa mente DESEJANTE e receptiva. Larga essa performance de Alex Turner, eu já estou impressionada e é justamente porque você mantém o mistério mesmo sem parar de falar um minuto, eu não quero te ligar chapada, eu quero virar a noite sóbria conversando e transando com você, e atingir a conquista mágica de te levar pra praça num sábado de manhã com dogs e bandinhas e pessoas tão hipsters quanto os nossos amigos. Eu quero te apresentar pros meus amigos, foda-se a família, mas meus amigos precisam te conhecer, e você vai amar tanto cada minuto com eles que não vai mais conseguir imaginar seus finais de semana sem isso.

Você não me pergunta como foi meu dia, e eu agradeço pela sinceridade, de quem está caindo e eu estou. Me fala se eu posso me jogar (nesse azul, no infinito desses braços), eu preciso de uma permissão pra me apaixonar por você, de uma carta de apoio, de um positivo no zap, do horário exato do seu nascimento, 10 dias de diferença dos aniversários não podem dar errado, ainda mais no dia da Beyoncé, você já deu certo, agora falta dar comigo, falta você não mudar pra São Paulo ou eu parar de bancar a fodona e falar que eu te namoraria sim a uma hora de distância e alguns trânsitos infernais, o tempo de um podcast de tamanho médio e 4 músicas da Phoebe, uma casa pra ficar quando eu quisesse ir a shows museus e bares caricatos e duvidosos no Largo da Batata ou Alto de Pinheiros, especialmente porque você iria comigo e mais especialmente ainda que iria porque gosta, não porque eu gosto. Porque você sabe do que gosta, ou pelo menos dá essa impressão. Porque você parece mais sério por foto e conhecer seu jeitinho em detalhes é um privilégio que somente o match no tinder não permite. Porque eu quero te contar que descobri hoje que “new person, same old mistakes” e “same ol’ mistakes” são a mesma música, e só ouvi a primeira porque estava nas suas mais tocadas de 2021, e achava que a original era da Rihanna. Porque não quero me policiar em te mandar mensagem sábado à noite pensando que você pode estar em um date. Porque eu até dividiria uma conta do MUBI com você, afinal.

Queria saber se é muita viagem pensar em ficar juntos em dezembro e em tempos de mudanças extremas. Sei que quero te ver mais umas 3 vezes antes de ir pra praia. Quero que alguma coisa dê errado e você desista de mudar. Quero que sua melhor amiga fale bem de mim. Quero não passar em BH. Quero continuar transando com você em janeiro do ano que vem.

Someday, I’m gonna live

In your house up on the hill.

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